Ceasa Paraná inspira criação de projeto para combater a fome no país 24/06/2025 - 09:55

O Banco de Alimentos Comida Boa foi citado por Geyze Diniz, cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, como “um feito admirável no Brasil, e que precisa ser replicado”.
“Visitando a CEASA de Curitiba, fui surpreendida por uma cena rara: um sistema onde, literalmente, nada se perde. Nada. Em um país onde mais de 55 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos, o que representa cerca de 1/3 de toda a produção nacional de alimentos (enquanto muitos ainda se deparam com seus pratos vazios), encontrar um lugar que trata o alimento com esse nível de respeito me inspirou a ponto de querer escrever sobre o assunto.”
Foi assim que Geyze Diniz, cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, iniciou o texto em sua coluna publicada na página da CNN Colunas, no último domingo, 22 de junho.
Segundo Geyze, dados indicam que 84% do desperdício de alimentos ocorre antes mesmo de os produtos chegarem à casa do consumidor. Desse total, 21,5% dos alimentos são desperdiçados na etapa de armazenamento, especificamente nas fases de manufatura e abastecimento, como nos Centros de Abastecimento (Ceasas). Enquanto isso, mais de 64 milhões de brasileiros vivem em algum grau de insegurança alimentar e nutricional, enfrentando dificuldades para garantir uma alimentação adequada, saudável, suficiente e segura. Dentre esses, 8,7 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, vivem em estado de fome não se alimentam hoje e não sabem se conseguirão se alimentar no dia seguinte.
Ela segue dizendo que, apesar do Brasil possuir políticas públicas para enfrentar essa situação, apenas 3% da população afetada pela insegurança alimentar grave é atendida por tais redes e que os bancos de alimentos seriam peças-chave nas estratégias para mudar esse contexto. Foi nesse ponto que Geyze Diniz citou a experiência que teve ao conhecer a logística do Banco de Alimentos Comida Boa em Curitiba:
“Não podemos esquecer que o combate à fome não pode ser dissociado da luta contra o desperdício. Os dois fenômenos, ainda que pareçam opostos, são faces da mesma moeda: a má gestão dos nossos recursos, a invisibilidade dos mais vulneráveis e a falta de prioridade pública e privada com o básico: o alimento.
Por isso conhecer a experiência do CEASA de Curitiba foi uma verdadeira inspiração, onde o foco do desperdício é zero. Um feito admirável no Brasil, e que precisa ser replicado. O que é comercializado pelos lojistas da CEASA segue seu caminho natural. Já o alimento que perdeu valor de mercado, mas ainda está em boas condições, é direcionado ao banco de alimentos instalado dentro da própria CEASA, e separado pelos times do banco, formado por apenados do sistema prisional. Os alimentos mais nutritivos são doados a instituições cadastradas. E o que já não serve mais para o consumo humano? É doado para consumo animal. E se sobrar algo? Passa por um biodigestor, gerando energia limpa. E o que ainda sobra? Vai para adubo. E nada vai para o aterro.
Essa engenharia da solidariedade é mais simples do que se imagina de ser colocada em prática e extremamente efetiva no combate ao desperdício, além de alimentar um número maior de pessoas e reinventar o fim da linha dos alimentos. Ou seja, atua em várias pontas: combate à fome, à insegurança alimentar, evita o desperdício de alimentos e contribui para não poluir o meio ambiente.
A CEASA de Curitiba é um excelente exemplo de que, com boas práticas replicáveis no que tange processamento de alimentos, inclusão socioeconômica, iniciativas de bioenergia com foco em resíduo zero, é possível transformar o desperdício de alimentos em uma ferramenta poderosa de redução da fome e melhoria das condições de vida, ao mesmo tempo em que se promove uma maior conscientização sobre a importância do reaproveitamento e da sustentabilidade.
A partir deste contexto, o Pacto Contra a Fome resolveu desenvolver o Projeto Ceasas, que busca possibilitar a implantação, modernização e fortalecimento de estratégias de redistribuição de alimentos em outras Centrais de Abastecimento (Ceasas), por meio de Bancos de Alimentos, com foco na redução de perdas e desperdícios e na promoção da segurança alimentar e nutricional para populações em situação de vulnerabilidade. E como faremos isso? Por meio da sistematização de metodologias que funcionam e boas práticas que devem ser replicáveis para todo o país, assim como cálculos de investimentos e operacionalização de políticas públicas e advocacy.”
Para o diretor-presidente Éder Bublitz, é imensurável a importância para o Banco de Alimentos Comida Boa ser citado como um exemplo de estratégia que funciona e que realmente muda a realidade. “Eu sei da importância do alimento para uma vida e eu sei da importância de uma vida para Deus, e, no Banco de Alimentos Comida Boa, estamos cuidando com o maior respeito dos alimentos e das vidas envolvidas. Ver que esse esforço está sendo reconhecido, é o que nos faz mais fortes para seguir em frente. E mais, o Banco de Alimentos Comida Boa vai passar por um processo de ampliação, para que mais famílias e instituições possam receber alimentos.”, afirmou ele.
Assim como Geyze, Éder também acredita que buscar o desperdício zero é garantir dignidade à milhares de famílias: “Todos os meses, atendemos quase 130 mil paranaenses. Pessoas que, na maioria das vezes, tem que optar por comprar uma fruta ou a carne para a semana. Não porque não tem emprego, mas porque o dinheiro é realmente curto. Imagina uma família com cinco ou seis pessoas, pagando aluguel, pagando luz, orçamento realmente apertado. Para nós é uma honra levar um alimento de qualidade para quem precisa. Nos orgulha muito o que o Banco de Alimentos Comida Boa faz, que é democratizar o acesso à boa alimentação.”